Neonazismo
O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo:
a dimensão histórica e internacional
*

Paulo Fagundes Vízentini


Historiador e cientista político, Ph.D em História Económica pela Universidade de São Paulo, pós-doutorado em Relações Internacionais pela London School of Economics and Political Science. Professor titular de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É autor de diversos livros sobre história e política contemporâneas, entre os quais "Dez anos que abalaram o século XX: política internacional de 1989 a 1999" e "A política externa do regime militar brasileiro". Atualmente é diretor do Instituto Latino-americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ILEA).

Introdução

Os acontecimentos no mundo têm reforçado a importância da reflexão sobre o neonazismo e a extrema direita. A preocupação ao abordar esse tema, não se restringe à ideia de um movimento político em si, ou a questões exclusivamente de origens sociais, éticas ou filosóficas ligadas a essa temática, mas sim contribuir a partir de uma dimensão histórica, principalmente calcada nos problemas internacionais, que estão por detrás desse ressurgimento, já que, infelizmente, esse é um fenómeno que não está conhecendo fronteiras no mundo inteiro.

Em primeiro lugar, é interessante pontuar que serão enfocadas questões um pouco diferentes: neonazismo; extrema direita (o nazismo faz parte da extrema direita, mas nem toda a extrema direita é exatamente nazista ou neonazista); e o extremismo político (que é um fenómeno mais amplo). Discutiremos todos esses aspectos, paralelamente, sem que isso exija uma definição precisa, já que são fenómenos associados. Outro aspecto que também faz-se importante pontuar (as vezes a imprensa não é muito clara ao abordar tal assunto) é a diferença entre um partido político, com filiados, militantes, slogans e bandeiras, e um movimento político mais amplo, principalmente um eleitorado, que na maioria das vezes não é parte permanente desses grupos e possui características diferenciadas. E, ainda, um outro fenómeno distinto são as gangs, como, por exemplo, grupos de skinheads, verdadeiras tropas de choque, que por vezes esses movimentos produzem. Portanto, nem sempre são as mesmas pessoas, nem têm as mesmas características, sendo esse movimento, infelizmente, um processo múltiplo.

No final dos anos 80 houve algumas explosões desses movimentos na Europa e, em uma entrevista na televisão, um representante da Alemanha Ocidental em Porto Alegre, procurava minimizar o episódio afirmando que esses grupos eram marginais, periféricos, poucos numerosos, e que as autoridades e as instituições tinham conhecimento e controle sobre eles. O fato dessa pessoa falar de tal forma, evidenciava uma tentativa de acalmar a opinião pública, porque ele próprio, ao dizer isso, parecia preocupado. Não é para menos. Por exemplo: o Partido Nazista foi fundado logo depois da Primeira Guerra Mundial, em 1919, e tinha sete membros. Em 1921, quatro anos depois, já eram 3 mil. Em 1926, eram 50 mil, e quando o nazismo chegou ao poder, em 1933, tinha 850 mil filiados.

Em termos eleitorais, também conheceu um crescimento vertiginoso. Em 1924, obteve 6,5% nas eleições legislativas na Alemanha e, em 1933, quando vai formar um governo, obteve 44% dos votos. O reduzido efetivo desses movimentos não é suficiente para negar a sua importância e o seu perigo, porque eles são apenas a "ponta do iceberg" (o iceberg, como se sabe, só tem um décimo do seu volume acima da linha d' água). Esse ressurgimento, portanto, tem certas características preocupantes, porque o que é visível representa apenas parte de um fenómeno muito mais complexo. E para entendermos esse processo, é preciso voltar à História. Para tanto, faz-se necessário dividir a análise em duas partes: a primeira, o nascimento, expansão, derrota e hibernação; e a segunda, o ressurgimento e o novo caldo de cultura dos anos 80 e 90.

NASCIMENTO, EXPANSÃO, DERROTA E HIBERNAÇÃO

O nazifascismo é um movimento que, do ponto de vista imediato, está ligado à crise do liberalismo e à crise da própria noção de progresso nos anos 20, ou seja, encontra um grande apoio, uma razão de ser, como resposta a toda a agitação social, aos problemas e, especialmente, ao triunfo e existência da Revolução Soviética no final da Primeira Guerra Mundial. Ele retoma as tradições conservadoras que vinham praticamente desde a derrubada do Absolutismo, com as revoluções liberais e burguesas na Europa. Representavam forças que se opunham à noção de progresso, de razão, à noção iluminista. Mas, uma vez que o progresso, o crescimento industrial e a sociedade moderna se afirmaram, eles permaneceram como filosofias marginais e exóticas.

A crise que se produz a partir da Primeira Guerra Mundial, criou um espaço e gerou o "caldo de cultura" necessário para um desenvolvimento rápido desses movimentos, que retomam tradições atávicas muito importantes. Mas, o que catapultou efetivamente esses movimentos foi a Crise de 29 e a Grande Depressão, embora alguns desses partidos já houvessem chegado ao poder na década de 20, a exemplo do fascismo italiano em 1922.

Com a Crise de 29 e seus milhões de desempregados no mundo, além de confrontos por toda a parte, esses movimentos começam a ganhar uma importância e um peso formidável. Em março de 1990, no jornal da Associação de Docentes da UFRGS, publicamos a tradução de um artigo do Lê Monde Diplomatique, intitulado "O triunfo do contra-senso: esta de volta o tempo dos mágicos", de autoria de Ignácio Ramonet, que hoje vem a ser o diretor geral do jornal. Nesse artigo, há uma comparação muito interessante entre os anos 70 e 80 com os anos 20 e 30 mostrando o tipo de produção cultural e de imaginário político que foi se gestando. A análise do autor foi premonitória, pois o que foi assinalado, suas advertências de dez anos atrás, acabaram se cumprindo integralmente, lamentavelmente.

Há um aspecto desagradável, que a bem da verdade histórica deve-se ressaltar, sobretudo se se pretende evitar o ressurgimento desses movimentos: a conivência internacional que houve com relação a regimes desse tipo na Europa do entre-guerras, e em certos momentos, da Segunda Guerra Mundial. Especificamente, faz-se referência às grandes democracias ocidentais que, de certa forma, viram nesse tipo de movimento "um mal menor" e uma forma de bloqueio à possibilidade de revoluções socialistas na Europa. Este aspecto toma-se visível, desde fatos um pouco folclóricos, como um caso relatado de um professor inglês, um liberal, que fazia viagens de estudo à Itália e foi, na década de 20, a um congresso. Ao regressar teria dito que, embora o fascismo o repugnasse, no caso da Itália era a única maneira de fazer com que os trens chegassem pontualmente. Desde essa manifestação prosaica, até a Política de Apaziguamento que o Lord Chamberlain vai desenvolver nos anos 30 - que vai permitir uma escalada armamentista e expansão territorial da Alemanha, sem que fosse disparado um tiro, percebe-se ligações e conexões internacionais que permitiram a afirmação do nazifascismo.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, o movimento era derrotado, manifestando sua dimensão como movimento internacional, evidenciando que esse não é apenas um fenómeno alemão. Os últimos soldados que morreram defendendo o Reichstag, quando as tropas soviéticas tomaram o prédio, eram soldados franceses da divisão SS Charlemagne, que lutavam pelo Führer e pela raça ariana. Eles, apesar da derrota iminente, estavam realizando suas concepções irracionais.

Em 1945, o fascismo foi derrotado, mas não eliminado ou vencido definitivamente. Por que razões somos surpreendidos pelo ressurgimento, com muita força, desses movimentos? É necessário considerar alguns outros aspectos históricos que também são relevantes. Por exemplo, no final da Segunda Guerra Mundial dois regimes de perfil fascista na Europa, Portugal de Salazar e a Espanha de Franco, negociaram com as potências vencedoras e mantiveram-se no poder. Evidente que algumas reformas um pouco cosméticas foram introduzidas nesses regimes para mascarar o seu caráter, pois o nazifascismo fora derrotado, e eles permaneceram no poder até a década de 70. Portanto, permaneceram no poder por mais 30 anos desde o final da Segunda Guerra Mundial e no caso de Portugal, inclusive participando da OTAN, da qual também participou um regime de conotações fascistas: o regime dos coronéis gregos durante os anos 60 e 70.

Outro problema do resultado da Segunda Guerra Mundial, que iria permitir uma sobrevida ao fascismo, não como um movimento aberto, como um movimento explícito, mas como um "bulbo que hiberna em baixo da terra", foi o fato de que a Guerra começou como uma tentativa de esmagar tudo aquilo que fosse ligado a ideia de progressismo, de esquerda, de socialismo. E o resultado da conflito produziu exatamente o contrário do que os conservadores desejavam: houve claramente, durante a Guerra, uma política de enfraquecimento e, mesmo, de eliminação da URSS. Aqui não interessa tanto a discussão específica do caráter interno da URSS ou de Stalin, mas o fato de como certas elites europeias percebiam essa sociedade e a ideia de que o socialismo era uma ameaça. Quando a Guerra terminou, o centro da Itália, por exemplo, estava infestado de guerrilheiros esquerdistas que tinham um grande controle sobre a região. Na França ocorreu o mesmo com os maquis da resistência: uma grande parte deles era liderada pêlos comunistas.

Neste sentido, podemos observar uma série de livros interessantes que abordam o fato de que nem sempre houve apenas uma ocupação alemã dos países, mas que dentro de cada país, vastos grupos políticos e sociais apoiaram o nazismo. No caso da França de Vichy, por exemplo, a todo o momento está ressurgindo algum tipo de escândalo de colaboracionismo ativo. Portanto, houve um grande comprometimento de parte das elites nacionais.

Quando a Segunda Guerra termina, emerge gradativamente aquilo que vai se chamar de Guerra Fria. Havia que reconstituir muitos desses países. Ao mesmo tempo ocorreu uma divisão da Europa de caráter geopolítico entre os EUA e a URSS. Essa divisão geopolítica não respeitou as particularidades internas daquelês países. Na realidade, países como a Grécia, a Itália e a França, onde a esquerda era muito forte, permaneceram no campo ocidental. Enquanto isso, países onde a esquerda era muito fraca, como Polónia, Hungria e Roménia, permaneceram no bloco soviético.

Era preciso reconstituir o espectro político desses países, dotá-los de novos partidos e criar grandes formações de centro ou de centro-direita que estabilizassem a vida política nacional, evitando a vitória da poderosa esquerda. Nesse caso, uma das saídas encontradas foi reorganizar as forças conservadoras em tomo, por exemplo, de partidos como a Democracia Cristã na Alemanha e na Itália, que eram, efetivamente, forças de centro e centrodireita que deveriam, então, equilibrar a vida política desses países. Obviamente que as direções desses partidos, os seus dirigentes, eram pessoas que vinham da oposição ao fascismo, algumas das quais haviam sido perseguidas, outras menos, mas pessoas que vinham da oposição.

A pergunta que se faz é, considerando a força que os partidos fascistas tiveram durante o período de vigência do III Reich em termos de suporte social, se era possível existir um partido dessas dimensões que não contivesse, nas suas bases, precisamente em nível de militante médio e de uma base eleitoral propriamente dita, pessoas que de certa forma haviam participado, se não ativamente, pelo menos aquiescido com o regime anterior. Obviamente, as autoridades de ocupação diziam não ser possível privar as pessoas de voltar a se manifestar e que era necessário fazer a autocrítica.

Por outro lado, era necessário reconstruir a economia desses países. Com o Plano Marshall, percebe-se uma nova tendência nos julgamentos de criminosos de guerra, inocentando pessoas, sobretudo grandes empresários que haviam sido extremamente ativos na manutenção desses regimes. Um caso muito conhecido é o da família Krupp na Alemanha, onde, à medida que se deteriorava o clima internacional e a Guerra Fria ia começando, o tom do julgamento também ia se alterando e, no final, aqueles que apoiaram financeiramente o fascismo acabaram, de certa forma, escapando. Essa é uma segunda razão pela qual sobrevivem, ainda que em hibernação, fatores e atores que propiciaram a existência do fascismo depois da Segunda Guerra Mundial.

Evidente que vão fazer toda uma inflexão no discurso, e o anti-comunismo vai ser a grande bandeira atrás da qual puderam se esconder, mostrando uma forma de solidariedade com as democracias liberais que ali existiam, falando da ditadura dos outros (o leste socialista) e não daquela do seu passado. É curioso, mas poucos anos depois de terminada a Segunda Guerra Mundial, já havia um discurso liberal em muitos dos antigos países fascistas, como se ali não tivesse havido nada de excepcional. Ou seja, o problema estava do outro lado da Cortina de Ferro, exclusivamente. Essa foi uma camuflagem muito útil para a manutenção da vida política nesses lugares, para quebrar o poder da resistência e dos grandes partidos de esquerda e dos sindicatos, que eram extremamente fortes em vários desses países.

Houve também, em terceiro lugar, episódios mais pontuais, onde algumas personalidades nazistas eram extremamente úteis no Pós-Guerra. Entre outros, há dois pequenos exemplos: no campo da segurança, o famoso Klaus Barbie, um homem especializado em combater as organizações de esquerda. Obviamente, o cenário da Guerra Fria que estava se montando, fazia dele um expert extremamente útil; e ele, efetivamente, vai ser retirado da Europa pelas autoridades aliadas para trabalhar por um tempo para a agência de Inteligência norte-americana (CIA) até, posteriormente, radicar-se na América do Sul. Esse é um caso muito conhecido entre centenas.

Há também aqueles que, pelo seu conhecimento técnico, eram extremamente importantes, como Wemer Von Braun, o pai dos foguetes americanos, e antes disso, o pai dos foguetes alemães, que era membro do Partido Nazista com ficha assinada. Evidente que a ascendência de algumas categorias profissionais estava ligada a uma certa conivência com o regime. Mas o fato é que houve uma participação muito mais ativa do que se pode pensar. Von Braun, que era extremamente útil e importante para o projeto espacial norte-americano, evidentemente, teve seu arquivo suavizado para poder participar como um cidadão das democracias em uma corrida espacial contra a URSS.

Houve também uma série de redes internacionais de solidariedade que levaram várias personalidades, elementos importantes do regime derrotado, a buscar refúgio tanto nos EUA quanto no Canadá, mas também nas periferias. Na América do Sul, esse episódio é bem conhecido. A África do Sul também foi outro local que recebeu grande contingente de refugiados nazistas. Passado esse primeiro momento do final da Segunda Guerra, a Guerra Fria realmente começa e, cada vez mais, estes elementos são integrados como uma força anti-comunista e, como dito anteriormente, é atrás dessa bandeira que muitas dessas organizações vão se esconder.

Também é curioso que no período de Guerra Fria existia uma literatura soviética a justificar que, em certos países do Leste europeu, determinados grupos políticos de oposição eram classificados como fascistas, que se opunham ao regime que ali vigorava, tanto na época do stalinismo quanto depois, durante a desestalinização. Realmente, isso sempre pareceu um exagero, uma tentativa de justificar seu próprio domínio. Todavia, é curioso que quando os regimes do Leste europeu caíram, fomos surpreendidos pelo fato de que os Ustachis continuavam existindo na antiga lugoslávia, organizados e com conexões internacionais. Os Ustachis eram um partido fascista croata, que foi responsável por milhares de assassinatos de sérvios, judeus, ciganos e outros. Na Hungria, movimentos de extrema direita sobreviveram durante quarenta anos, organizados no underground e, muitas vezes, com conexões com as democracias ocidentais, e ressur-^ giram com força política no país.

Outro ponto muito interessante, é o fato de que o fascismo vai sobreviver diluído e, às vezes, encarregando-se de algumas tarefas supletivas. Um affair muito conhecido, extremamente indigesto na Europa Ocidental, é o famoso caso da organização Gladio. Sobre esta organização há um dossiê montado pelo governo italiano com base nas investigações a respeito da loja maçónica P2, onde detectou-se e documentou-se largamente na Itália a existência de uma orga-- nização paramilitar chamada Gladio. Há um grande artigo sobre isso no jornal Lê Monde Diplomatique de dezembro de 1990, mostrando que essas formações paramilitares eram utilizadas como uma virtual segunda linha de defesa da OTAN, no caso de uma guerra e de uma invasão soviética. Mas enquanto essa invasão soviética não acontecia, como nunca aconteceu, elas eram empregadas para golpear organizações sociais, organizações civis de esquerda, sindicatos, partidos políticos. Entre outros, teria sido responsável pelo atentado de Bolonha, em 1980, e pelo assassinato, por exemplo, do político da Democracia Cristã italiana, Aldo Moro, um assassinato que foi camuflado como se tivesse sido cometido por uma organização de extrema esquerda (as Brigadas Vermelhas).

Aldo Moro estava, naquela época, negociando um governo de coalizão entre o Partido Democrata Cristão e o Partido Comunista. O então ministro italiano chamado a dar explicações sobre o caso, declarou com toda a sinceridade, que não haveria razão para cobrar do governo italiano a responsabilidade sobre a questão, pois a organização Gladio era uma formação europeia, existente em todos os países da Europa e financiada pela OTAN durante todo o período de Guerra Fria.

No período de Guerra Fria, que seriam os "anos dourados" da sociedade de consumo ocidental e capitalista, muitos desses elementos fascistas acabaram encontrando uma forma útil de prestar serviços no Terceiro Mundo. Alguns vieram a assessorar regimes dos mais brutais, dos mais obscurantistas e violentos; outros se engajaram em guerras coloniais, seja nas próprias Forças Armadas dos seus países, seja como mercenários. Nos EUA pode ser detectada a existência de uma série de revistas especializadas sobre esses tipos de ações, com um largo público consumidor, que são pessoas muitas vezes ligadas a esses movimentos extremistas e que, de certa forma, não apareciam no cenário interno dos países democráticos do Hemisfério Norte, mas estavam presentes nos países do Terceiro Mundo, fazendo aquele trabalho sujo que haviam aprendido durante o anos 30 e a primeira metade dos anos 40.

Durante os "anos dourados" (os 30 anos que se seguiram do término da Segunda Guerra Mundial), nas sociedades ocidentais, particularmente na Europa (onde é mais forte esse tipo de movimento), a população sofreu uma acomodação política. Houve uma desnazificação conduzida pêlos governos, com políticas educacionais específicas dirigidas aos estudantes e toda a geração que se seguiu à Guerra, existindo um enquadramento desses em uma sociedade liberal democrática, uma sociedade de consumo, ocorrendo progressivamente, uma despolitização dessas populações. Portanto, de certa forma, remexer no passado desses países é algo muito complicado. Jovens que por vezes procuraram investigar sobre essas questões, acabaram por chocar-se com o passado dos seus pais, e isso criava um clima de animosidade muito grande.

Nesta época, os partidos de extrema-direita tinham uma composição etária curiosa. Eram formados por pessoas acima de 60 anos e que haviam sido nazistas no passado; e depois seguia-se a faixa de pessoas de meia idade, onde a pirâmide reduzia-se drasticamente; abaixo, uma ampla base social de jovens entre dezesseis e vinte e quatro anos. Assim, aquelas pessoas que haviam vivido a desnazificação tinham uma representação muito pequena, a exemplo do Partido Nacional Democrático, na Alemanha. A única exceção que deve ser feita nesses países é o MSI (Movimento Social Italiano), que continuou mantendo um partido de massas representativo nas eleições e que chegou a fazer parte de uma coalizão governamental em 1994 durante o governo Beriusconi. Fora essa exceção, normalmente os partidos viviam uma vida vegetativa e semi-clandestina; veteranos de guerra, entre outros, que tinham seus clubes e associações e que utilizavam certas causas periféricas (cabe salientar que essa é uma forma de retomar-se a linha política). Por exemplo, as mudanças de fronteira na Europa Oriental eram um dos pontos onde essas organizações fixavam-se, retomando causas aparentemente válidas como causas nacionais, para manter viva a solidariedade e a atuação desses movimentos.

Durante toda essa fase, houve uma lógica política de subordinação à democracia liberal da Guerra Fria, ou seja, nesse momento as autoridades tinham um certo controle e estas pessoas ficavam num plano de atuação marginal. Pode-se dizer que o "espírito antifascista", depois da Segunda Guerra, durou por longo período. O problema vai emergir quando surgem as novas gerações que não viveram a Segunda Guerra Mundial ou, praticamente, pessoas que eram muito jovens na época, e dela não tinham senão lembranças muito remotas.

Há um outro fator que fazia com que essas organizações se mantivessem de certa forma periféricas. Esse é um fator extremamente importante, porque tomase preocupante a visão corrente e a crítica que se faz ao neonazismo, calcadas não só em uma perspectiva analítica liberal, mas em uma perspectiva política essencialmente liberal. Este aspecto, em função da Guerra Fria, nega o mérito a quem também o tinha. Por exemplo, o fato de que existia uma esquerda relativamente organizada, atuante na vida política, defendendo alguns valores e que mantinha uma noção antifascista vigente, e mesmo a existência do bloco soviético. Ela tinha as suas funções também positivas historicamente, porque ajudou a equilibrar o espectro político, não deixando espaço, então, para manifestações explícitas desses elementos. Isso foi um aspecto que, seguramente, influenciou em uma espécie de contenção desses movimentos. O problema começa a manifestar-se com mais força a partir dos anos 70, quando um caldo de cultura, um ambiente favorável passa a delinear-se. Que ambiente é este?

O RESSURGIMENTO DA EXTREMA DIREITA E DO NEONAZISMO

Os grandes "anos dourados", os anos de prosperidade, começam a esgotar-se desde a crise do petróleo. Em meados da década de 70, o mundo inteiro é sacu- dido por diversas revoluções ultranacionalistas ou socialistas, que atingem o Terceiro Mundo, da Nicarágua à Angola, do Ira ao Vietnã. Há uma série de revoltas políticas no Terceiro Mundo. É curioso e interessante a conjunção desses dois fatores. Não se trata de uma realidade, mas de um imaginário, pois as pessoas não agem em função de uma realidade tal qual ela é, mas agem de forma como percebem a realidade. Nesse sentido, as elites e segmentos da classe média europeia, também começam a preocupar-se. Efetivamente, esses setores haviam sido solidários com a causa vietnamita e contra a guerra, com grande apoio popular. Os social-democratas suecos, por exemplo, ao condenarem a atuação americana no Vietnã, tiveram amplo apoio social e popular; os jovens universitários utilizavam camisetas com a imagem de Che Guevara ou chapéus vietnamitas, como noção de solidariedade. Mas, a crise do petróleo, que na percepção deles havia sido desencadeada por regimes retrógrados ou "revolucionários malucos" do Oriente Médio no poder, criou uma recessão económica que começava a atingir o Primeiro Mundo. Na verdade, por trás disso, está uma reconversão industrial e tecnológica muito mais ampla (a crise do petróleo é um problema limitado dentro de um amplo espectro de reorganização produtiva). De qualquer forma, a crise económica e a vitória dessas revoluções começam a fazer com que aquela simpatia que existia na classe média europeia pelo Terceiro Mundo - e que muitas vezes era uma espécie de "alívio da consciência de seu próprio passado" passasse a declinar.

Na segunda metade dos anos 70, diminui a solidariedade com o Terceiro Mundo e vai havendo uma mudança no enfoque de como os europeus tratam as questões dos países periféricos. Esse aspecto também é mesclado pelo surgimento de alguns capitalismos bem sucedidos no Terceiro Mundo. Em particular é o começo do chamado "milagre asiático", onde os países ocidentais começam, lentamente, a ser inundados por mercadorias baratas produzidas na Ásia Oriental, que criam um certo tipo de xenofobia, onde é resgatada a noção de "perigo amarelo". Até países como o Brasil chegaram a construir durante os anos 60 e 70 uma base industrial razoável que, em alguns aspectos, passa a competir com países do Primeiro Mundo. Há, claro, um quadro de estagnação industrial, como a Europa estava vivendo, onde o caso mais marcante é o da Inglaterra, com o desmantelamento gradativo das bases industriais, além do surgimento do desemprego em um continente que até então tinha a garantido, praticamente, a ideia de pleno emprego.

A isso soma-se um outro fator também muito importante, que favorece o renascimento do nazifascismo: a estagnação e a regressão demográfica dos países do Hemisfério Norte. Em certa altura dos anos 70, os fluxos migratórios, que desde as grandes navegações eram do Norte para o Sul, inverteram-se e passaram a ser do Sul para o Norte, a partir de uma combinação de dois fatores interrelacionados: um, como foi dito, o problema demográfico em si mesmo; outro, a reorganização da economia mundial, que fazia com que alguns setores económicos do Primeiro Mundo necessitassem de um tipo de mão-de-obra mais barata e fizesse, efetivamente, um apelo a vinda de trabalhadores estrangeiros (os turcos na Alemanha, magrebinos para a França, indianos para a Inglaterra, etc.), que iam encarregar-se de setores que não tinham a margem de lucratividade suficiente para subsistir. A ideia de "invasão dos bárbaros" vai se arraigando no espírito dos europeus. Dessa forma, a Europa aparece como velho Império Romano em declínio e os bárbaros, aqueles de pele morena que vão "invadir e conspurcar" os modos de vida que os ocidentais detinham. O que impressiona é a força com que esta noção é difundida nos países europeus e, por vezes, pessoas esclarecidas, pessoas de boa orientação política, quando confrontadas com certas situações, comportam-se a partir desse referencial ideológico.

Por outro lado, essa sociedade de consumo substitui a ideia de cidadania em termos de militância política, por uma ideia de cidadania enquanto consumo. O descontentamento da juventude com a sociedade de consumo acabou por desencadear, nos anos 60, os movimentos de contra-cultura, inicialmente com os hippies "cabeludos e pacifistas" (e de classe média), que vão ser substituídos por uma versão mais popular, os skinheads, que posteriormente vão dividir-se e tomar caminhos políticos diferenciados. Portanto, há uma presença muito grande desse movimento de contra-cultura como desencanto com a sociedade de consumo, com a sociedade que se centrava na questão do indivíduo e do enriquecimento pessoal. Esse vai ser, então, um local de recrutamento para as organizações fascistas ou neofascistas.

Um outro fator que acaba sendo também importante nesse aspecto é que, em meados da década de 70, três regimes ainda de caráter fascista que existiam na Europa, Portugal de Salazar, o franquismo na Espanha e o regime dos coronéis gregos, vão desmoronar. Curiosamente, isto serviu como "ponta de lança" para que a extrema direira começasse a reorganizar-se abertamente. De certa forma, a existência daqueles "santuários", ou daqueles regimes amigos, lhe havia servido como um tipo de consolo e, quando caem esses regimes, as forças políticas desses países (o caso da Espanha é muito típico) e outras formações de extrema direita na Europa vão começar a fazer reuniões. Existe aquela mitologia da existência ou não de uma Internacional Negra, mas o fato é que esses grupos começaram a rearticular-se, reorganizar-se e integrar-se.

Nessa época, através de forças americanas da OTAN, que estão em bases na Europa, criaram vínculos curiosos: alguns soldados americanos eram membros da Ku Klux Klan, e então estabeleceram-se redes ligando a Europa aos EUA. Evidentemente, esse não foi o único vínculo, mas há dossiês montados sobre isso, ou seja, como a Ku Klux Klan acossou seus correligionários de extrema-direita na Europa e que, no final da década de 70, passam por um processo de reorganização e de retomada da militância, até porque não apenas sentiram uma conjuntura favorável, mas porque, de certa forma, perderam alguns pontos de apoio que tinham e passaram a atuar mais abertamente.

Os anos 80 são anos de retomada do liberalismo na economia e da retomada da Guerra Fria no plano da política internacional. É uma época que vai caracterizar-se pelo desemprego e por incertezas de toda ordem, por desencanto. A população europeia começa a ver sua noção de progresso, prosperidade e segurança ser perdida. Porém, não se fala sobre o tema, não é explicitada a inquieta- ção, mas ao colocar certas questões com inteligência, os europeus demonstram ter medo do futuro. Ou seja, a incerteza com os acontecimentos que estão por vir ou a garantia de emprego. De repente, o emprego passa a ser uma virtualidade ou passam a ser frágeis, sem seguro social. A forma de trabalho passa a ser flexível devido ao toyotismo que, então, substitui o fordismo. Estes aspectos não explícitos na superfície, estão latentes na base e, o caso da Inglaterra é interessante, não só pêlos skinheads, mas pelas torcidas organizadas, os hooligans, que estão fortemente implantados nos bairros de desempregados e de classes deprimidas.

Logo em seguida, estas tensões sociais vão encontrar uma válvula de escape na xenofobia e no racismo, que foi seu grande ponto de partida e o seu relançamento. Os estrangeiros passam a significar, nesse sentido, pessoas que iriam tomar seus empregos, que estariam mudando seus modos de vida, introduzindo as drogas, a criminalidade, a decadência. Crescem os pedidos para rever a política de imigração para refugiados políticos, que havia sido uma "generosidade" da Europa até aquele momento, muito motivada pelo passado nazista. Dessa forma, começam a crescer as tensões por todo lado.

Na França, um partido de extrema direita, a Frente Nacional, que procura negar a sua identidade neonazista, mas que a todo o momento faz referência ao passado do regime de Vichy, ganha base de apoio social, a ponto de políticos de esquerda, socialistas ou comunistas, serem obrigados às vezes, nas suas circunscrições eleitorais, a defender políticas restritivas à imigração. Quando perguntados por que estão fazendo isso, respondem que, se não levantarem essa bandeira, não terão nenhum voto nessas circunscrições, pois os trabalhadores, a base social, quer ouvir alguma forma de segurança em relação a esse aspecto. Os hooligans vão mostrar que - aí efetivamente o futebol vai acabar, na Europa, se tornando uma espécie de "ópio do povo" - é o momento de fazer uma catarse social, literalmente, espancando os adversários.

Na Alemanha também há um renascimento muito forte da atuação desses grupos, além de outros países. Numericamente, estes grupos ainda são pequenos, porém extremamente ativos. No entanto, o preocupante é o que foi chamado de "ponta do iceberg". Por exemplo, percebe-se que, de fato, todo o espectro político começa a caminhar para a direita, nos anos 80, com a eleição generalizada de governos conservadores na Europa. O eleitorado começa a perceber seus pro-

blemas, como também, em parte, a falência do projeto social-democrático. Falase muito na crise do socialismo na década de 80, e se esquece da crise da socialdemocracia. A social-democracia praticamente foi varrida dos governos europeus, com exceção da Espanha de Filipe Gonzaiez e da França de Mitterand, onde esses governos acabaram executando o mesmo tipo de política que os outros. Não houve nenhuma diferença em relação ao que foi feito em termos de privatizações e cortes de serviço social.

O que percebemos é que a grande social-democracia que deu estabilidade à Europa no Pós-Guerra é confinada a alguns nichos, e começa a ser feita toda uma reciclagem para tentar aproximar-se de uma visão mais à direita, para poder vol- tar a ganhar o poder novamente. Ao mesmo tempo, o ressurgimento da Guerra Fria permitiu o retomo da ideologia enaltecedora da violência. Nessa época, o presidente Reagan elogia elementos proscritos em muitos lugares, chamando-os de "paladinos da liberdade", como os contra, da Nicarágua. Hoje, estamos acostumados a ouvir falar do fundamentalismo islâmico como uma ameaça ao Ocidente. Porém, há que lembrar um fato empírico inquestionável: essas organizações e movimentos foram apoiados e estimulados pelo Ocidente como forma de combater elementos reformistas e esquerdistas, seja no Oriente Médio, seja na guerra do Afeganistão.

Contudo, as potências acabaram criando um "monstro" que, agora, escapa ao controle. Elementos da ditadura somozista, os contra da Nicarágua são mostrados como "heróis da liberdade" no mundo, resgatando uma certa dignidade ao direitista, embora ele apareça nas telas na forma de homem anencéfalo, como o personagem Rambo. Assim, retoma-se o culto ao militarismo, à força, à violência, tudo aquilo que era uma bandeira sedutora para certas categorias de jovens que a extrema direita utilizava e empregava. Os filmes que começaram a ser produzidos na década de 80, dos quais o citado artigo de Ignácio Ramonet faz um levantamento exaustivo, são realmente preocupantes.

Nos anos 80, vários problemas vão levar ao retomo do irracionalismo, quase como paradigma, se é possível fazer tal afirmação. Ou seja, no campo das ciências, aquilo que futuramente chamar-se-ia de pós-modernidade, que começa a negar os paradigmas anteriores, todos eles, que tentavam dar uma espécie de ideia articulada da realidade social, começam a ser questionados. O pensamento de que o mundo é inexplicável, contraditório e fragmentado; a realidade seria fragmentada e não poderia ser compreendida na sua totalidade. É como colocar "fogo em grama seca", porque a partir daí, aquelas noções teóricas que davam suporte aos grandes movimentos políticos e às grandes correntes ideológicas que foram dominantes no pós-Segunda Guerra Mundial, se debilitam. Esse espectro amplia-se para o campo da cultura, da sociedade, da religião, ou seja, há uma ampla expansão desse irracionalismo. Por exemplo, a volta de uma religiosidade que depois será chamada de fundamentalista em toda parte, nos países desenvolvidos e na periferia, às vezes de caráter muito instrumental.

Todavia, o que interessa e preocupa não é a manipulação política que se faz desses movimentos, mas, sim, o porquê de largas categorias de população aderirem a eles. Alguns artigos fazem referência aos numerosos "milagres" e visões que as pessoas tiveram entre o final dos anos 70, nos anos 80 e 90. O número de peregrinações que aumentaram pelo mundo e aquela aparente religiosidade que ressurge a busca do "absoluto" em algum lugar. Já que o Estado está se retirando do campo social e económico e os grandes movimentos políticos e os partidos não respondem mais, a necessidade de buscar proteção toma-se imperativa.

Embora já existisse anteriormente, esse misticismo torna-se um fenómeno de massa, que traz, entre outros aspectos, a emergência de jogos de sorte e azar, loterias e horóscopo; há uma inflexão massiva nessa direção. Ignácio Ramonet menciona que as publicações relativas a horóscopo na França passaram, em uma década, de 4 revistas para 200, o que mostra o nível de consumo, como se tivéssemos voltado à antiga Caidéia e a ideia de que os espíritos nos regem. Inclusive, o artigo começa com um fato muito interessante: um homem de negócios, um aplicador da Bolsa na Espanha, perdeu o que tinha no colapso que houve em 1987, quando aconteceu uma queda violenta nas ações, desesperando-o. Esse, que era um homem de análise de mercados, de oferta e procura, um homem de ciência, fez o possível para levantar dinheiro, endividou-se e resolveu colocar a sua sorte "nos céus". Comprou vários bilhetes de loteria. Por não ter ganho, o homem enforcou-se em uma praça de Madri, deixando uma carta com o relato sobre sua morte.

Então o artigo questiona: "Quando homens de negócios, pessoas que conhecem as tramas do mercado, recorrem às forças do além, algo não está bem na sociedade". Assim, esse medo difuso começa a ocorrer, as pessoas começam a gostar de assistir filmes, não apenas de violência, mas aqueles filmes que propõem um tipo de catarse: transformados em objeto massivo no cinema e na literatura. Neles, há uma curiosa mistura de tecnologia avançada com elementos míticos. O autor demonstra ainda que esse tipo de situação, nos anos 30, permitiu a existência de uma barbárie daquela ordem.

Na periferia exasperada pela crise económica, pela falência do reformismo de todos os regimes que tentaram manter-se no poder, percebe-se a volta à formas atávicas, porque não há na sociedade espaço para o vácuo. O homem perdido apoia-se pelo menos no passado. Formas atávicas, como a restauração de um Islã (numa modalidade que, na verdade, nem chegou a existir no passado), reintroduzindo práticas sociais arcaicas e, finalmente, tomando-se um regime político, são preocupantes. Por vezes, detectamos facilmente este fenómeno nos países islâmicos, onde a religião toma-se uma política de Estado. Mas, nas sociedades ocidentais, também ocorre semelhante fenómeno, quando, em campanhas eleitorais, o discurso está voltado, largamente, para questões religiosas. A religião passa a ser uma categoria política, quando o grande atributo de um candidato é "ser evangélico".

Nos anos 90, com a queda do Leste europeu, com o fim da URSS e da Guerra Fria, esse processo vai adquirir uma projeção geométrica, porque ao mesmo tempo, a globalização também liberta-se das amarras da Guerra Fria. A competição económica internacional e a reestruturação tecnológica, produzem não só integrações económicas, mas fragmentações pelo mundo, gerando uma crise social e económica de novo tipo, onde a esquerda reclama menos da exploração e mais da exclusão. Ou seja, muitas vezes os governos de esquerda fazem enormes concessões para atrair alguma empresa, mante-la e para ter algum ingresso decapitai.

Neste contexto, um primeiro aspecto curioso é o fato de existir uma espécie de extrema-direita, sem causa e abandonada, como por exemplo o caso das milícias norte-americanas, que perpetuaram o atentado de Oklahoma e várias ações separatistas (os texanos, por exemplo), formadas por aqueles que, em determinada época, prestaram serviço militar e eram ligados fervorosamente à ideias de extrema direita e a "cruzadas" que acabam desaparecendo, como a anticomunista. O fundamentalismo islâmico, por sua vez, escapa do controle. Osman Bin Laden, por exemplo, que está envolvido em atentados à embaixadas americanas na África e se encontra refugiado no Afeganistão, foi um homem financiado pela Arábia Saudita (um aliado do Ocidente) com fundos clandestinos da CIA, para fazer a guerra contra os soviéticos no Afeganistão.

Os neonazistas começam a fazer ações, principalmente nos países do Leste Europeu, que saem do regime socialista. A extrema-direita, o nacionalismo, a xenofobia e as ideias neonazistas surgem com vigor em países onde até então não havia, de certa forma, estruturas e formas de convivência capazes de lidar com este fenómeno. Os analistas, então, recorreram à uma explicação simplista, culpando o comunismo, pouco contribuindo para a real compreensão do problema. O que houve nestas sociedades foi um colapso absoluto, um mundo que ruiu.

Os últimos anos do comunismo foram negativos em termos de performance económica. E havia uma descrença neste sistema por uma parcela significativa da população. Além disso, a ideia geral era "passar para o outro lado". Ora, adotar outro sistema revelou-se uma experiência frustrante e dolorosa, porque implicou em uma reciclagem industrial e numa política de ajustes que ocasionou forte desemprego. Daí o desencanto com o capitalismo ter sido um passo muito rápido, porque quanto mais ilusão se tem com algo, mais rapidamente vem a desilusão. Quando se acredita resolver todos os problemas de uma só vez e isto não acontece, a tendência é que eles se agravem e se busque um bode expiatório, até mesmo com elementos manipulativos. Como Lech Walesa, um herói do Sindicato Solidariedade, que resistia ao regime polonês e, assim que chegou ao poder, fez um discurso surpreendente, de tom anti-semita, num país onde praticamente não sobraram judeus. Para quem se dirigia este discurso ou o que quiz dizer com isto? Ou seja, o resgate de formas atávicas do que havia de pior no nacionalismo desses países.

A extrema-direita começa igualmente a mostrar sua face modernizada no Ocidente. O caso do político austríaco Haider é muito sintomático. Ele é chamado pela atual oposição de "yuppie fascista" pelo fato de ser um homem perfeitamente identificado com o que há de moderno. Ele se recicla, num certo vazio ideológico criado devido a regressão da esquerda, apoiando-se no neoliberalismo e seus termos técnicos de mercado. Ora, o mercado não resolve a vida política das nações, restringindo-se apenas à economia, e é notável que este fim de século se caracterize por um grau de despolitização inédito. O desencanto das pessoas com os partidos, com os políticos e com as instituições democráticas é elevado e extremamente preocupante, abrindo espaço para "antipolíticos" populistas.

A questão da xenofobia, neste contexto, toma-se grave. Pesquisas feitas pela União Europeia revelaram que quase três quartos dos jovens da França não são de origem francesa. A Itália, hoje com 60 milhões de habitantes, chegará em 2050 com 40 milhões, havendo uma redução de 33% da população italiana, e parte desta população não será etnicamente italiana. Assim, o discurso neonazista e racista ganha espaço.

Esses fenómenos começam a se manifestar de forma preocupante na Europa e a extrema-direita aproveita para mostrar sua face. Não apenas arruaceiros com suásticas jogando coquetéis Molotov em albergues ou espancando estrangeiros. Os fatos são alarmantes, como no caso das pessoas chegadas do Leste Europeu e que ficam acampadas próximos das estações ferroviárias na Alemanha (região do Ruhr), quando jovens neonazistas são pagos por pessoas vizinhas para expulsá-los dali, numa tentativa de continuar a tranquilidade nas redondezas. Ora, a queda do Leste Europeu ampliou em muito o problema das migrações, onde uma massa de refugiados, se dizendo perseguidos políticos ou de origem alemã, ou ainda fugindo de guerras, chega à Europa Ocidental diariamente.

Além disso, a globalização tem produzido um enfraquecimento do Estado nacional. E esse enfraquecimento, que pode se manifestar como própria destruição do Estado nacional, como por exemplo, a guerra da lugoslávia e a introdução de novas formas de nacionalismo, que alguns autores chamam de micronacionalismo ou nacionalismo tribal. Ou seja, se começa a recriar entidades supostamente étnicas, gerando com isto um fenómeno conflitivo e racista. Muitas vezes, os separatismos abrem espaço para as ideias neonazistas. Não há necessariamente uma relação direta, mas ambos tem ideias idênticas de exclusão dos outros. Ou seja, quando os croatas proclamaram a independência, seu líder Tudjman, que várias vezes fez elogios aos grupos de Ustachis fascistas e extrema direita católica, proclamou que a "Croácia era um Estado dos croatas". O problema é que um quarto da população da Croácia não era croata, e sim servia. Pessoas passaram imediatamente a ser cidadãos de segunda categoria no novo país. Por razões de política internacional, as vítimas foram apresentadas como agressores, mostrando os sérvios como monstros. A realidade não é esta, mas isto produz diretamente a exclusão. E, assim se desatou a tragédia, as guerras civis, a intolerância e a violência cruel sobre a lugoslávia, anteriormente um país estável no Leste europeu.

Há aqueles que acreditam se tratar de conflitos étnico-religiosos. Mas, por exemplo, há manifestações de "racismo" dentro da mesma "raça". A Liga Norte da Itália rechaça os imigrantes do sul. Dizem que "o norte trabalha, Roma arrecada e o sul gasta". Ora, olhando o nível de vida do sul e do norte da Itália, nota-se que esta é uma política de região rica, que quer se livrar dos impostos e dos demais. Mas o norte não se dá conta que boa parte de seu mercado está no sul do país.

Outro caso é o "racismo" existente entre os wessis e os ossis, ou seja, os alemães da Alemanha ocidental e os da antiga Alemanha oriental. Existe um sentimento de rejeição recíproca muito forte atualmente, pois as duas sociedades são estruturalmente diferentes, e os orientais são tratados como vencidos. Essas manifestações na Alemanha e Itália são sintomáticas pelo fato de que não são problemas de origem étnica e racial simplesmente. Trata-se de questões sócioeconômicas e políticas, inclusive no caso da lugoslávia, pois sérvios, croatas, bósnios e eslovenos constituem um mesmo grupo étnico.

Mas, também no caso da guerra da lugoslávia, foi documentada a atuação de forças paramilitares de extrema-direita. Um exemplo é o caso da Legião Negra, da Alemanha, especializada em minas, armamentos e mísseis, que se aliou ao exército croata na luta contra os sérvios. Este exército croata foi montado com equipamentos do antigo exército da Alemanha Oriental, que se encontravam nos arsenais da Alemanha Ocidental.

Na França, os neofascistas atingiram a marca de 15% nas últimas eleições. Este ano já ocorreram centenas de atentados só na Alemanha, a ponto de a própria população começar a reagir, através de manifestações. O caso da Áustria também é conhecido. Há uma inquietação social que pode levar ao estabelecimento de um novo modelo civilizacional. Não só um novo modelo tecnológico ou uma nova economia mundial, mas um novo modelo de civilização. A globalização e a revolução tecnológica derrubaram as estruturas vigentes, abrindo a Caixa de Pandora. A era da Internet é ao mesmo tempo a era dos regimes fundamentalistas.

Todas as sociedades do mundo devem se aliar para defender a herança que iniciou com o Renascimento. Essa modernidade ainda não se esgotou, como dizem os pós-modemos, pelo simples fato de que 80% da população mundial ainda não teve acesso a essa modernidade; se tivesse, não estaria apoiando regimes e partidos que se nutrem do medo e da ignorância. O medo e a ignorância são a base desses movimentos, e as democracias devem se armar contra isso, através da mobilização social. É preocupante o fato de que o cidadão mais bem intencionado pode estar se contaminando por vertentes "extremistas soff como certas versões dos movimentos antitabagistas, ambientalistas e até o culto à tecnologia, que guardam certas semelhanças com estas propostas políticas de intolerância.

Assim, não causa surpresa o livro "O Choque de Civilizações", de Samuel Huntington, até então tido como adviser da elite decisória norte-americana. Neste livro ele afirma que, com o fim da Guerra Fria, o conflito ideológico deu lugar ao civilizações. Ora, o livro confunde civilização, cultura, etnia, religião e tenta mapear o mundo a partir disto, apontando como perigo para a humanidade a possível aliança do Islamismo com o Confucionismo. O interessante no livro é captar o imaginário de uma elite, a maneira como eles enxergam o mundo. No penúltimo capítulo do livro, Huntington afirma que "a ordem do mundo tem que ser mantida, e só pode ser garantida pelo Ocidente. E a única instituição que o une intimamente é a OTAN, que deve ser o grande bastião do qual não se pode recuar e abrir mão". As imagens que o livro evoca são muito semelhantes às imagens da queda do Império Romano. Basta ver atualmente, nos EUA, a rivalidade entre os declinistas e os revivalistas. A composição étnica dos EUA está mudando: não são somente brancos, anglo-saxões e protestantes, mas um significativo número de asiáticos, latinos, negros e até os índios que estão crescendo proporcionalmente mais.

Os riscos contidos no ressurgimento do nazismo e da extrema-direita são incalculáveis. Estamos vivendo uma espécie de esgotamento, declínio e em alguns pontos, até colapso de uma ordem que existiu anteriormente. E o que irá substituir isto, ainda não está construído. É precisamente neste hiato de pânico e desesperança que surge o medo. Segundo Ramonet, "o obscurantismo seduz cada vez mais certos espíritos desencorajados pela complexidade das novas realidades, chocados pela irracional crise económica." Graças a esse obscurantismo, já se expandiram através do mundo as revoluções conservadoras e os diversos fundamentalismos: islâmico no Ira, puritano nos EUA, católico na França, ortodoxo em Israel, etc. Mas ele poderá, amanhã, quando a recessão que ameaça tiver amplificado os temores, desencadear impulsos destrutivos mais graves. E será tentador, então, procurar nas dificuldades crescentes, cómodos bodes expiatórios, o que certos homens políticos já fizeram: "Nós corremos o risco de ser como o povo romano, invadidos pêlos bárbaros que são os árabes, os marroquinos, os iugoslavos e os turcos", declarou o ministro do Interior belga José Michel. "Pessoas que chegam de muito longe nada tem em comum com nossa civilização". Assim, ideias senis podem renascer em corpos mais jovens e se tomar populares. Nos anos 30, Thomas Mann tinha pressentido o perigo: "o irracionalismo que se torna popular é um aterrorizante espetáculo. Sente-se que dele resultará fatalmente um mal". O contra-senso nutre-se de ignorância e medo, de crença e esperança. São os elementos de toda religião, de toda superstição. O traumatismo económico que sofrem atualmente as sociedades, arrisca transformar esses elementos em elixires para uma nova barbárie".


Bibliografia

  • FILATOV, Mikhail, e RIABOV, Alexandre. O fascismo dos anos 80. Lisboa: Avante, 1985.
  • FLORENTIN, Manuel. Guia de Ia Europa Negra: sesenta anos de extrema derecha. Barcelona: Anaya & Mário Muchnik, 1994.
  • HOCKENOS, Paul. Livres para odiar. Neonazistas: ameaça e poder. São Paulo: Scritta, 1995.
  • LOPEZ, Luiz Roberto. Do Terceiro Reich ao novo nazismo. Porto Alegre: Ed. da Universidade/ UFGRS, 1992.
  • VIZENTINI, Paulo Fagundes. História do século XX. Porto Alegre: Novo Século, 2000.


Anexo
GRUPOS NEONAZISTAS E DE EXTREMA DIREITA NA EUROPA
Fonte: FLORENTIN, Manuel. Guia de Ia Europa Negra: sesenta anos de extrema derecha. Barcelona: Anaya & Mário Muchnik, 1994.

Alemanha
1. Aktionfront Nationaler Sozialisten/Nationale Aktivisten (Frente de Ação dos Nacional Sócialistas/Ativistas Nacionais (ANS/NA)
2. Aktion Neue Rechte (Açâo Nova Direita) (ANR)
3. Aktion Oder-Neisse (Ação Oder-Neisse)
4. Bund Nationaler Studenten (Liga dos Estudantes Nacionalistas)(BNS)
5. Burger und Bauerninitiative (Iniciativa dos Cidadãos e Camponeses)
6. Die Republikaner (Os Republicanos)
7. Deustche Aktiongruppen (Grupo de Ação Alemã)(DA)
8. Deustche Alternative (Alternativa Alemã)(DA)
9. Deutsche Burgerinnitiative (Iniciativa dos Cidadãos Alemães)
10. Deutsch-Europãische Studiengesseliscchaft (Associação para os Estudos Germanoeuropeus) (DESG)
11. Deutsche Liga für Volk und Heimat (Liga Alemã pelo Povo e pela Pátria) (DLVH)
12. Deutsche Nationalistiche Partei (Partido Nacional Alemão) (DNP)
13. Deutsche Reichpartei (Partido do Império Alemão)(DRP)
14. Deutsche Soziale Bewegung (Movimento Social Alemão)(DSB)
15. Deutsche Volksunioon (União do Povo Alemâo)(DVU)
16. Deutsches Jugendbildunkswerk (Oficina alemã para a educação da juventude)(DJBW)
17. Freiheitiichen Deutschen Arbeitpartie (Partido da Libertação Alemã)(FAP)
18. Gesinnungsgemeinnschaft der Neuen Front (Comunidade da Frente Nova)
19. Hilfsorganisation für Nationale Politische Gefangen und deren Angehõrige (Organização para a ajuda dos Prisioneiros Políticos Nacional e suas famílias)
20. Hilfsgemeinschaft auf Gegenseittigkeit der Waffens SS (Associação de Ajuda Mútua dos Waffen SS)
21. Jungend Nationaldemokraten (Juventudes Nacionais-Democrtatas) (JN)
22. National Jungend (Juventude Nacionalista)
23. National List (Lista Nacional)
24. Nationalsozialistiche Deutsche Arbeiterpartei/AusIands und Aufbau-Organization (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães/ Organização do Exterior)
(NSDAP/AO)
25. Nationaldemokratischer Hochschulbund (Liga nacional Democrática Universitária)
26. Nationaldemokratische Partei Deutschiands (Partido Nacional Democrático da Alemanha) (NPD)
27. Nationale Alternative (Alternativa Nacional) (AN)
28. Nationale Offensive (Ofensiva Nacional)
29. Nationalistiche Front (Frente Nacional)
30. Proletasrisch Reichs Partei (Partido Imperial Proletário)
31. Sozialistische Reichspartei (Partido Socialista do Império)
32. Volkssozialistische Bewegung DeutchIands/Partei der Arbeit (Movimento Socialista Alemão/ Partido do Trabalho)
33. Wehrsportgruppe Hoffmann (Grupo Desportivo Hoffmann)
34. Wilkind Jugend (Juventude Viking)

Áustria
1. Aktion Neue Rechte (Açâo Nova Direita)
2. Arbeitsgemeinschaft Freiheitiichter Akademikerverbãnde õsterreichs (Comunidade de Trabalho das Associações Liberais Austríacas)
3. Ausiander Hait Bewegung (Movimento para a Proibição de Estrangeiros)
4. Comando Trenck
5. Kamaradschaft IV
6. Kamaradschaft Babenberg
7. Nationaldemokratische Partei (Partido Nacional Democrata)
8. Freiheitiiche Partei Õsterreichs (Partido Liberal Austríaco)
9. Õsterreischer Landsmannschaft (Irmandade Patriótica Austríaca)
10. Õsterreischer Turnebund (Agrupaçâo Austríaca de Ginástica)
11. Ring Freihetiicher Studenten (Círculo de Estudantes Liberais)
12. Verband der Unabhãngigen (União dos Independentes)
13. Volksbewegung (Organização do Povo)
14. Volkstreue Ausserparlamentarische Opposition (Oposição Extraparlamentar do Povo)

Bélgica
1. Agir
2. Amis du Grand Reich Allemand
3. Christus Rex
4. Comité pour Ia Défense dês Belges en Afrique
5. Consortium Europ' 'en
6. Delta
7. Eorodroite
8. Forces Nouvelles
9. Front National
10. Gueuning
11. Jeune Europe
12. Mouvement d'Action Civique
13. Mouvement Social Belge
14. Nouvelle Ordre Européen
15. Nouvelle Sparte
16. Parti de 1'Union National-Socialiste
17. Union Nationale Socialiste Belge
18. Verbond van Dietsche Nationale Solidarista
19. VIaams Block (Bloco Flamenco)
20. VIaamse Concentratie (Agrupaçao Flamenca): VC
21. VIaamse Militanternorganisatie (Organização dos Militantes Flamencos): VMO
22. VIaamse Militanten Orde-Odal (Orden dos Militantes Flamencos): VMO-Odal
23. VIaamse Nationale Verbond (Liga Nacional Flamenca): VNV
24. VIaamse National Partei (Partido Nacional Flamenco): VNP
25. VIaamse Sociales Beweging (Movimento Social Flamenco): VSB
26. VIaamse Volks Partij (Partido do Povo Flamenco): WP
27. Volksunie (União Popular)
28. Were Di (Nós mesmos): WD
29. Westiand New Post (Novo Posto Ocidental): WNP
30. Zwarte Order-Ordre Noir-Zoon (Ordem Negra)

Bielorrússia
l. Voiskoutsau (Frente Nacional)

Bulgária
1. Comité para o Acordo Nacional
2. Comités para a Defensa dos Intereses Nacionais
3. O Legionário
4. Guarda Laranja
5. Partido Nacionalista Radical Búlgaro
6. Partido Social Nacional
7. União Agraria Búlgara

Croácia
1. Hrvastke Oruzane Snage (Conselho de Defesa Croata): HOS
2. Hrvastke Slobodilaki Poccret (Partido do Direito Croata): HSP
3. Ustasa Hrvatska Revoluciarna Organicija (Organização Revolucionária Guerilheira Croata):UHRO

Dinamarca
1. Danmarks National-Socialistike Arbedjer Partei (Partido Nacional Socialista da Dinamarca): DNSAP
2. Danmarks National-Socialistike Bewege (Liga Naciona Socialista Danesa): DNSB
3. Det Danske Seiskab (Asociaçâo da Dinamarca): DDS
4. Fremskrittspartiet (Partido do Progresso)
5. Gronenne Jacket (Jaquetas Verdes): GJ
6. Landbrugernes Sammiestutnig (Partido dos Camponeses): LS

Eslováquia
1. Movimiento Eslovaco Democrático (HZDS)
2. Partido Nacional Eslovaco (SNS)

Eslovênia
1. Partido Nacional
2. Partido Nacional Socialista
3. Movimento Anticorrupção

Espanha
1. Alianza Republicana Nacionalista: ARENA
2. Alternativa Democrata Nacional
3. Antiterrorismo ETA: ATE
4. Bases Autónomas: BA
5. Batallón Vascoespanol: BV
6. Central Obrera Nacional Sindicalista: CONS
7. Círculo Espanol de Amigos de Europa: CEDADE
8. Círculos Doctrinales José António
9. Comunión Tradicionalista Carlista
10. Confederación Nacional de Combatientes: Dipar
11.Falange Espanola Independiente: FEI
12. Falange Espanola de Ias Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalistas:
13. Falange Espanola de Ias Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalistas Autêntica: FE de las JONS Autêntica
14. Falange Espanola Tradicionalista y de Ias Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalista FET y de las JONS
15. Frente de Estudiantes Sindicalistas: FÉS
16. Frente de Estudiantes Nacional-Sindicalistas: FENS
17. Frente Nacional: FN
18. Frente Nacional de Alianza Libre: FNAL
19. Frente Sindicalista Revolucionário: FSR
20. Frente Sindicalista Unificado: FSU
21. Fuerza Nacional dei Trabajo: FNT
22. Fuerza Nueva: FN
23. Guerrilleros de Cristo Rey
24. Juntas Espanolas: JJEE
25. Juntas de Oposición Falangista: JOF
26. Juventudes Vikingas
27. Movimiento Católico Espanol: MCE
28. Movimiento Nacional
29. Movimiento Social Espanol: MSE
30. Nación Joven: N J
31. Nueva Acrópolis
32. Sindicato de Estudiantes Universitários: SEU
33. Solidaridad Espanola
34. Tradición, Família y Propiedad
35. Unión Nacional: UN
36. Unión Patriótica
37. Vanguardia Nacional Revolucionaria: VNR

Estónia
1. Asociación de Combatientes por Ia Libertad de Estónia: WABSE
2. Kaitseliyte

Finlândia
1. Kansailinen Kokoomous (Partido de Coalisão Nacional): KOK
2. Kansailinen Ptioliie Demokraty (Partido Nacional Democrata) :KPD
3. Pertistusiaillinen Oikestopuolue (Partido Constitucional de Direita): POP
4. Suomen Mcíyetídiilii Ptiolue (Partido Liberal Fliilanclés): SMP

França
1. Action Nationcile (Acción Nacional): NA
2. Comandos Delta
3. Comités d'Action Républicaine:CAR
4. Faisceaux Natiotialistes Européens (Faseio Nacionalistas Europeos): FNE
5. Fédération d'Action Naitionalle et Européene: FANE
6. Front d'Étudiants Nationalisles: FEN
7. Front National (Frente Nacional): FN
8. Front Noir (Frente Negro)
9. Front Socialiste Aryen (Frente Socialista Ariana): FSA
10. Front Unitté du Travail (Frente Unida do Trabalho): FUT
11. Groupement pour Ia Déftnse de 1'Unité Franssaise: GDUF
12. Groupement de Recherche et d'Études sur lê Civilistition Européene: GRECE
13. Groupes d'Action Jeunesse (Grupos de Ação Juvenil)
14. Groupes d'Intervention Nationaliste (Grupos de Intervenção Nacionalista)
15. Jeune Nation (Jovem Nação): JN
16. Jeunesses Nationalistes Révolutiontiaires (Juventudes Nacionalistas Revolucionárias):JNR
17. Jeunesses Phalangistes Françaises: JPF
18. L'Euvre Française (A Obra Francesa)
19. Lê Faisceau (El Faseio)
20. Mouveinent Naitional Citadelle:MNC
21. Mouvement Nationial Révolutiotinaiire: MNR
22. Mouvement Populaire Français: MPF
23. Mouvementt Socialiste d'Unité Française: MSUF
24. Occident
25. Occidetit Chrétiein
26. OrdeNouveax::ON
27. Organisation Armée Secréte:OAS
28. Organisation Lutte du Peuple
29. Nouvelle Résistence
30. Parti dês Forces Nouvelles : PFN
31. Parti National-Communiste (Partido Nacional-Comunista): PNC
32. Parti Nationaliste Français (Partido Nacionalista Francês): PNF
33. Parti Nationaliste Français Européen (Partido Nacionalista Frans Europeo): PNFE
34. Parti Patriotique Révolutionnaire (Partido Patriota Revolucionário): PPR
35. Parti Populaire Franeais (Partido Popular Francês): PPF
36. Parti Prolétaire National Socialiste (Partido Proletário Nacional Socialista): PPNS
37. Parti Républicain d'Unité Populaire (Partido Republicano de Unidade Popular): PRUP
38. Phalange Française (Falange Francesa)
39. Ressemblement National Populaire (Unidade Nacional Popular):NP
40. SÓS France
41. Troisième Voie (Terceira Via)

Grã-Bretanha
1. Action National Party (Partido de Açâo Nacional): ANP
2. British Brothers League (Liga dos Irmãos Britânicos): BBL
3. British Democratic Party (Partido Democrático Britânico): PDB
4. British Fascisti (Fascistas Britânicos): BF
5. British Movement (Movimento Britânico)
6. British National Party (Partido Nacional Britânico): BNP
7. British Union of Fascists (União dos Fascistas Britânicos): BUF
8. Combat 18
9. Column 88
10. Constitutional Movement (Movimento Constitucional)
11. English Solidarity (Solidaridade Inglesa)
12. Friends of Mosley (Amigos de Mosley)
13. Imperial Fascist League (Liga Imperial Fascista)
14. Ku Klux Klan
15. League oj Empire Loyalist (Liga dos Leais ao Império): LEL
16. League of Saint George (Liga de São Jorge)
17. Naiional Fascisti (Fascistas Nacionais)
18. Naional Front (Frente Ncional): NF
19. National Party (Partido Nacional): NP
20. National Socialist Movement (Movimiento Nacional Socialista) :NSM
21. New National Front (Nova Frente Nacional)
22. Political Soldiers (Soldados da Política)
23. Racial Preservation Society (Sociedade da Preservação Racial):RPS
24. SS Wostan
25. Stamford Fascists (Fascistas de Stamford)
26. Scotiand National Party (Partido Nacional Escocês): NSP
27. Union Movement (Movimiento da União)
28. White Defence League (Liga de Defesa Branca)

Grécia
1. EIliniko Elhnosocialistiko Komina (Partido Nacional Socialista Griego): EEK
2. Enomeno Ethniko Kinema (Movimento Nacionalista Unificado): ENEK
3. Ethniké Enosis Ellado (União Nacionalista Grega): EEE
4. Ethniki Parataxis (Frente Nacional): EP
5. Ethniki Politiki Enosis (União Política Nacional): EPEN
6. Fititiki Ethniki Protoporeia (Vanguarda Estudantil Nacional): FEP
7. Komma Ethniko (Partido Nacional): KE
8. Komma tis 4 Avgoustou (Movimiento dei 4 de Acrosto): K4A
9. Movimiento dei Restablecimiento Nacional: OEA
10. Sidera Irini

Holanda
1. Aktionfront Nationaler- Sozialisten (Frente de Ação Nacional Socialista): ANS
2. Boerenpartij (Partido Camponês)
3. Centrumdemocraten (Centro Democrático)
4. Centrumpartij (Partido do Centro)
5. Centrumpartij'86 (Partido do Centro 86)
6. Jonjeren Front (Frente da Juventude)
7. Nationale Europese Sociale Beweging (Movimento Social Euro-peo Nacional): NESB
8. National-Socialistike Beweging (Movimento Nacional Socialista) :NSB
9. Nederlandse Oppositie Unie (União da Oposição Neerlandesa) :NOU
10. Nederlandse Volksunie (União do Povo Holandês) :NVU
11. Noorbond (seçâo holandesa da The Northem League)
12. Oude Strijders Legioen (Legião dos Antigos Combatentes)
13. VIaams National-Socialistike Vereeniging (Movimento Flamenco Nacional Socialista):
VNSV

Hungria
1. Frente Nacional Independente da Juventude
2. Grupo Húngaro de Açâo Nacional Socialista
3. Magyar Ut (Via Húngara)
4. Nyilas Kereszt (Cruzes tachadas): NK
5. Partido Húngaro da Verdad da Vida
6. Partido Nacional Mundial do Rol Popular
7. Partido dos Pequenos Propietários
8. Santa Corona

Irlanda
l. National Socialist Irish Workers Party (Partido Nacional Socialista Irlandês dos Trabalhadores): NSIWP

Islândia
l. National Sociailistiki Islanzkii Verkamanna Flokurium (Partido Nacional Socialista
Islandês): NSIF

Itália
1. Alleanza Nazionale : NA
2. Avanguardia di Popolo
3. Avanguardia Nazionale
4. Azione Skinheads
5. Disoccutipati Italiani Nazionalisti
6. Faseio di Azione Rivoluzionaria : FAR
7. Fascismo e Liberta
8. Fronte delia Gioventú
9. Fronte Nazionale
10. Lega Norte
11. Meridiano Zero
12. Movimento Político Antagonista
13. Movimento Rivoluzionario Popolare
14. Movimento Sociale Italiano: MSI
15. Nuova Azione
16. Nuova Destra
17. Nuclei Armati Rivoluzionari:NAR
18. Nuova Azione : NA
19. Ordine Nuovo : ON
20. Terza Posizione
21. Veneto Fronte Skinhead

Letónia
1. Comité dos Cidadãos Letões
2. Daugas Vanagi (As Águias de Daugaval)
3. Movimento pela independência Nacional da Letónia
4. Pátria e Independência
5. Perkonkrust (Cruzes do Trono)

Lituânia
1. Jovens Lituanos
2. Os Lobos de Aço

Macedônia
l. Organização Revolucionária Macedônia do Interior: VMRO

Moldávia
1. Frente Popular
2. Voluntários de Pridnestrovie
Noruega
l. Fremstrittspartiet (Partido do Progreso Popular)
2. Nasjonal Falkeparti (Partido Nacional Popular): NF
3. Nasjonal Samiig (União Nacional): NS
4. Norsk Front (Frente Nacional): NF

Polónia
1. Ação Católica
2. Confederación para una Polónia Independente
3. Falanga (Falange)
4. Frente Nacional Polaca
5. Guarda Nacional Polaca
6. Grünwaid
7. Movimento Nacional Monárquico
8. Partido doss Amigos da Cerveja
9. Partido Cristão Nacional
10. Partido Democrático de Direita da Polónia
11. Partido da Fidelidade à República
12. Partido da Liberdade
13. Partido Nacional Radical
14. Partido X
15. Poiskie Stronnictwo Narodowe (Comunidade Nacional Polaca)
16. União Ocidental da Polónia

Portugal
1. Fronte Nadoiial/Nova Monarquia : FNINM
2. Movimento Nacional d'Acçâo Nacional:
3. Movimento d"Acção Naconal: MAN
4. Movimento Nacional Sozialista :MNS
5. Sindicalismo Nacional
6. União Nacional

República Tcheca
l. Partido Republicano

Roménia
1. Guarda de Ferro
2. Legião do Arcanjo Miguel
3. Movimiento Pela Roménia
4. Partido Nacionalista
5. Partido do Trabalho
6. Partido Socialista
7. Partido de União Nacional Romeno
8. Romania Maré (Grande Roménia)
9. Vatra Romaneasca (Pátria Roménia)

Rússia
1. Centro Social Tártaro
2. Confederação dos Povos Montanheses do Cáucaso
3. Frente de Salvação Nacional
4. Movimento das Pesssoas sem Lugar
5. Movimento Social Popular
6. Nashi (Nós)
7. Pamiat (Memória)
8. Partido Democrata Liberal
9. Partido Democrata Islâmico
10. Partido Nacional Bolchevique
11. Partido do Renascimento Nacional "Ittifak"
12. Partido Russo
13. Rodina (Pátria)
14. Sobor (Solidaridade Religiosa)
15. Sovuz (União)
16. Unidade Nacional Russa
17. Unidad Russa
18. União da JuventudeTártara "Azatlyk"

Sérvia
1. Juventudes Monárquicas Servias
2. Partido Radical Sérvio
Suécia
1. Bevara Sverige Svenkst (Conservar a Suécia para os Suecos)
2. Ny Demokrati (Nova Democracia): ND
3. Nysvenska Rõrelsen (Movimento da Nova Suécia): NR
4. Nordiska Rikspartiet: NR
5. Sverige Deinokraterna (Democratas Suecos): SD
6. Sverige Partiet (Partido Sueco): SP
7. Vitt Ariskt Mostiand (Resistência Ária Branca): VAM

Suíça
1. Action Nationale (Ação Nacional): NA
2. Démocrates Suisses (Democratas Suíços)
3. Front Patriotique (Frente Patriótica): FP
4. Front dês Socialistes Fédéraux (Frente dos Socialistas Federais)
5. Lega Tesino (Liga do Tesino)
6. Nationale Actiongegen Uberfrendung von Volk und Heimat (Ação Nacional contra o Dominio Estranjeiro sobre o Povo e a Pátria)
7. Nationale Front (Frente Nacional): NF
8. Neue Front (Nova Frente)
9. Nouvel Ordre (NovaOrdem)
10. Parti dês Alitotnobilistes (Partido dos Automobilistas)
11. Parti National Révolutionnarie (Partido Nacional Revolucionário)
12. Parti National Socialiste (Partido Nacional Socialista)
13. Republikanische Bewegting (Movimento Republicano): RB
14. Union Démocratique du Centre (União Democrática de Centro) :UDC
15. Union Nationale (União Nacional): UN
16. Vigilance (Vigillância)
17. Wikitzg Jtigeiid (Juventudes Vikings)

Ucrânia
1. Autodefesa Nacional da Ucrânia: UNSO
2. Partido Nacional Social
3. Ruj

Internacionais
1. Aliança Internacional Anticomunista: AIA
2. Bureau Politique International (Oficina Política Internacional)
3. Comitato d'Azione per 1'Universalità di Roma
4. Confederação Juvenil Europea: CJE
5. Europafront
6. Frente Negra Internacional: FNI
7. Internacional Nórdica Proletária: INP
8. Jeune Europe (Joven Europa): JE
9. Jovem Direita Europeia
10. Ligue Internationale Anticommuniste
11. Movimiento Social Europeo: MSE
12. Movimiento Orgânico Social Europeo: SORBE
13. Nova Ordem Europeia: NOE
14. Nova Ordem Internacional: N01
15. Northern European League: NEL
16. Organização Armada contra o Comunismo Internacional: OACI
17. Socorro Negro Internacional: SNI
18. Weltdienst (Serviço Mundial)
19. Worid Anticomunist League : WACL
20. Worid Union oj National Socialistt (União Mundial Nacionil Socialista): WUNS



* Texto de conferência proferida em 8 de agosto de 2000. Transcrição de Analúcia Danilevicz.

Editado electrónicamente por el Equipo Nizkor- Derechos Human Rights el 21feb02
Capitulo Anterior Proximo Capitulo Sube