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17ago11


Auditora do MTE diz que problema nas oficinas da Zara não é isolado


Responsável pela coordenação das fiscalizações que identificaram a existência de trabalho escravo na cadeia da produtiva da Zara, a auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de São Paulo Juliana Cassiano disse que a empresa possui sérias falhas no rastreamento de seus fornecedores. Em entrevista exclusiva ao Razão Social, concedida agora há pouco pelo telefone, a auditora ressaltou que os casos registrados na cidade de Americana e na capital de São Paulo não são isolados. De acordo com investigação do MTE, pelo menos 33 oficinas ligadas à Zara estariam na mesma situação na região. A empresa se tornou destaque nas mídias sociais hoje, após a ONG Repórter Brasil e o programa "A Liga", da TV Bandeirantes, tornarem públicas, ontem à noite, ações de fiscalização do MTE realizadas no mês passado em oficinas que fornecem roupas para a marca. Foram encontradas 16 pessoas em regime análogo à escravidão, além de cinco crianças que, embora não trabalhassem, moravam no mesmo local, em condições precárias.

O GLOBO: Em nota oficial divulgada hoje, a Zara agradeceu ao MTE, afirmando que não sabia da situação dos trabalhadores. Como a senhora avalia a posição da empresa?

JULIANA CASSIANO: Se nós conseguimos rastrear a cadeia deles, então a empresa também pode fazê-lo. E, se a companhia rastreia a qualidade do produto o tempo todo, como não rastreia a mão de obra? Nas duas oficinas fiscalizadas na capital paulista mês passado, as condições eram muito precárias. E temos informação de que, no total, cerca de 33 oficinas estariam na mesma situação. Não é um caso isolado.

O GLOBO: Então trata-se de um problema na gestão da empresa em relação aos fornecedores...

JULIANA: Sim. É uma falha na gestão da cadeia produtiva. O primeiro flagrante foi em junho, na Rhode, que é a maior fornecedora de jeans da companhia. Naquele momento, não houve tanta repercussão, porque a Zara não era a única empresa que comprava da oficina. Mas já era um problema na cadeia, e era um grande fornecedor. Quando é assim, já identificamos que é uma questão maior. E o MTE continua rastreando a empresa.

O GLOBO: A senhora esteve presente no momento da entrada nas oficinas, certo? Quais foram as principais irregularidades encontradas?

JULIANA: Eram muitas. A situação foi impactante até para nós, eu e o auditor Luis Alexandre, meu companheiro na coordenação das fiscalizações. As pessoas dividiam um espaço pequeno, com apenas um banheiro, muito sujo. Trabalhavam e moravam nas oficinas. E havia cinco crianças vivendo ali. Além disso, não havia água quente. A menor que foi encontrada, de 14 anos, não estudava e trabalhava como cozinheira e fazendo serviços gerais. Mais da metade das pessoas não tinha qualquer documento de identificação e entraram no país por meio de tráfico ilegal de seres humanos. Tudo para ganhar entre R$ 200 e R$ 300, o que os prendia por escravidão por dívida. A situação era muito, muito grave.

O GLOBO: Mas a Zara não é exceção, várias empresas do setor têxtil têm apresentado o mesmo problema. É uma falha da regulação do setor?

JULIANA: Certamente há uma falha no setor. A investigação que fizemos sobre a Zara faz parte do Pacto Contra Precarização e pelo Emprego e Trabalho Decente em São Paulo - Cadeia Produtiva das Confecções. O trabalho já tinha culminado no rastreamento da cadeia da Marisa, Collins e Pernambucanas, nas quais também achamos trabalho análogo à escravidão. Os estrangeiros são a principal mão de obra vulnerável, e eles são essenciais para o crescimento do setor. Esperamos que a gestão da Zara e de outras marcas do setor seja adequada às condições de trabalho decente.

A maior parte dos trabalhadores encontrados era de bolivianos, que entraram no país aliciados para trabalhar para as confecções. Eles são vítimas do tráfico ilegal de seres humanos e vêm atrás de um sonho de uma vida melhor. Acabam escravizados por dívidas, já que em seus salários são descontados aluguel, comida, entre outras despesas.

[Fuente: O Globo, Razao Social, Bra, 17ago11]

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small logoThis document has been published on 22Aug11 by the Equipo Nizkor and Derechos Human Rights. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes.