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Neonazismo e revisionismo: Um desafio político
Flávio Koutzii *
O ressurgimento do neonazismo e dos movimentos de extrema direita nos anos 90, paralelamente à globalização, levanta uma série de inquietações. Compreender as condições em que tal fenómeno se manifesta, bem como discutir sua natureza, foi o objetivo central do seminário e do presente livro, uma iniciativa originária do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A ideia foi apoiada pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Federação Israelita/ RS, Programas de Pós-Graduação em Comunicação e em História da UFRGS e pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
O retorno do extremismo político, expresso geralmente de maneira violenta, não representa um fenómeno apenas europeu, mas mundial. Mesmo o Estado do Rio Grande do Sul, com suas fortes tradições democráticas, não está imune a isto. O caráter racista e xenófobo dos movimentos neonazistas constitui uma ameaça às sociedades pluralistas.
As incertezas e o elevado custo social da globalização, acompanhados do enfraquecimento do Estado nacional e da situação gerada pelo fim da Guerra Fria, constituem o caldo de cultura em que tais movimentos renascem. Apoiando-se em uma ideologia obscurantista e irracionalista, o neonazismo volta a manifestar-se tanto através da militância quanto, num plano mais amplo, busca promover uma pseudo-revisão histórica, que visa a negar os crimes de guerra do III Reich, como o holocausto judaico.
Tal estratégia visa a construir uma porta de entrada da extrema direita para o cenário político, mascarando seus propósitos, numa inversão que apresenta as vítimas como réus. Neste sentido, é necessário que a sociedade e as instituições sociais e estatais estejam alertas a tais manifestações, que constituem simultaneamente um balão de ensaio e a ponta do iceberg. Especialmente as novas gerações, que não viveram a guerra e o fascismo, são as primeiras vítimas desta forma de propaganda ideológica.
Assim, apoiamos a iniciativa do seminário e do livro, como forma de contribuir para o debate académico e como alerta social sobre os perigos do ressurgimento de movimentos nazistas. Em lugar do silêncio da indiferença, é necessário denunciar estes movimentos, renovando o debate e o conhecimento acumulado, bem como retomando a mobilização da sociedade contra este perigo. Afinal, como afirmou Goya, "o sono da razão engendra monstros",
* Chefe da Casa Civil do Estado do Rio Grande do Sul.